Déficit de médicos x alta demanda: Como a tecnologia pode ajudar na defasagem de especialidades

O Brasil tem hoje 502.475 médicos. Esse número representa mais que o dobro da quantidade de profissionais na ativa no início do século segundo os responsáveis pelo estudo Demografia Médica no Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com os resultados da pesquisa feita no último ano, a relação de médicos por 1.000 habitantes passou de 1,41 para 2,4, um aumento significativo para um país que sempre teve o número de profissionais de saúde, principalmente formados em medicina, menor que a demanda. O déficit por médicos no Brasil é uma questão bastante controversa e que sempre fez parte das discussões sociais em praticamente todas as esferas. Há uma compreensão de que o número de médicos poderia ser suficiente se a distribuição desses profissionais por todo o território brasileiro fosse proporcional, o que não acontece, principalmente nas regiões mais remotas do país. Quando a demanda é por um especialista, a situação se torna ainda mais comum.

Há, ainda, uma demanda notória por outros profissionais de saúde que atuam no Sistema junto ao médico.  Segundo um estudo da OECD States 2010, feito em parceria com a American Association of College of Nursing, o número de técnicos para cada médico é de 1,4. Já o número de enfermeiros por médico é ainda menor, chegando a 0,8.

Pandemia evidenciou problemas

Mesmo com o crescimento do número de médicos no país, algo que deve ser comemorado e ressaltado, o número de profissionais especialistas por região ainda pode não ser suficiente para atender a demanda da população brasileira.  Por conta disso, o acesso à saúde para muitas pessoas pode ficar prejudicado.  Para Fábio Abreu, CEO da hCentrix, há vários problemas no sistema de saúde e a redistribuição do médico é uma delas. “A Pandemia de Covid-19 evidenciou um problema com o qual já convivemos há décadas:  o acesso restrito a saúde em muitas regiões do país”, disse.

A solução para os problemas da Saúde está nas novas tecnologias?

Essa é uma dúvida que norteia muitas discussões e que não pode ser respondida sem antes considerarmos os avanços da Saúde nos últimos anos. O uso de novas tecnologias na Saúde, como ressalta Fábio Abreu, não é novidade. “A área da Saúde sempre foi um campo muito aberto para a inovação e sempre se beneficiou muito com a adoção de novas tecnologias. O que ficou evidente, principalmente por causa da Pandemia, é que investir em soluções que cada vez mais auxiliem o médico e o permitam ter mais condições de exercer o trabalho com segurança e precisão, contribui muito para a melhora nos indicadores de saúde, sendo eles relacionados ao acesso à Saúde, como um todo, ou até mesmo à redução de custos”, disse. 

Ainda segundo Abreu, a telemedicina, agora chamada de telessaúde, teve sua regulamentação acelerada na pandemia devido à própria necessidade do atendimento em meio à adoção de protocolos de distanciamento social. “Já existia a tecnologia para a telessaúde, havia recursos para implementação, mas o debate sobre a regulamentação não era levado a diante. Isso fazia com que o acesso, principalmente a diversas especialidades, gerasse um alto custo para o sistema. Imagina que você está em uma região sem acesso e precisa de um especialista? Para que esse atendimento acontecesse, haveria necessidade de deslocamento do médico ou do paciente, o que gerava custos. Hoje, com a telessaúde, o custo pode ser significativamente reduzido”, completou.

As soluções tecnológicas, apesar de não resolverem todos os problemas da saúde, contribuem para esses dois fatores: redução de custo e aumento do acesso. Se o seu objetivo é reduzir custos com saúde na sua empresa ou operadora, conheça todas as possibilidades de gestão de saúde populacional com a hCentrix. Clique aqui e acesse nosso site.

O futuro do mercado da saúde no cenário pós-pandemia

Como as inovações impulsionadas durante o enfrentamento à Covid-19 mudaram a percepção sobre a saúde e o que poderemos colher dessa experiência

Artigo de Fábio Abreu- CEO da hCentrix

O sistema da saúde passou por grandes transformações no último ano (e continuará passando nos próximos anos) impulsionadas pela pandemia. É que esse sistema atraiu os olhares do mundo todo graças a um ano atípico em que se falar de saúde deixou de ser importante para ser imprescindível.  Destacamos aqui alguns impactos importantes no setor:

O primeiro é a aceleração da adoção tecnológica que fez colocar em prática produtos e inovações que já estavam em desenvolvimento, mas que poderiam levar até mais de uma década para serem utilizados de forma massificada.  A saúde tem e sempre teve muito espaço para inovação, isso não se pode negar, porém, é um dos setores onde a adoção massiva de inovações ocorre de forma mais demorada. No entanto, a Covid-19 foi uma “incentivadora da inovação” ao exigir do mercado, urgência em se investir e apresentar soluções para uma realidade imprevisível e imediata. 

Vivíamos uma espécie de “setorização da saúde” tanto a nível governamental quanto nas empresas, cuja responsabilidade podia ser colocada para um ministério, uma secretaria ou um departamento dentro da empresa. Como segundo impacto, a crise mostrou que a saúde não pode mais ser tratada dessa forma. Nas organizações mais especificamente, a saúde era, quando muito, tratada apenas esporadicamente em reuniões do conselho de administração. A partir da pandemia as corporações passaram a enxergar e compreendê-la de forma diferente.  A saúde mostrou “sua força” em 2020 e passou a ser uma variável importante para discutir crescimento da empresa, seus concorrentes, sua inovação, estratégias, ou seja, tudo.  

A percepção de que a saúde precisa ser tratada de forma integrada e muito mais ampla foi enfim compreendida e temos a esperança que, nos próximos anos, seja incorporada por todas as instituições. Com isso, a saúde ganha seu espaço devido e passa a estar presente em discussões sensíveis e estratégicas de uma empresa, de um estado, de um país e, por que não, do mundo – a pandemia é um aprendizado novo para a humanidade em uma era de globalização. Vale lembrar que não existia, em nenhum lugar do mundo, preparação, ou minimamente um plano contingencial, para uma pandemia como a provocada pela Covid-19. Como a saúde sempre foi vista como algo restrito e setorial – e como pandemia afetou a tudo e a todos nas dimensões básicas de uma sociedade – econômica, social e tecnológica – não havia estratégias estabelecidas para lidar com ela. 

O terceiro impacto é que ela também aflorou algumas discussões sobre a composição “o que” realmente é importante para saúde, para além das inovações tecnológicas, do incentivo aos bons hábitos de vida, da busca contínua pela melhora do ambiente em que vivemos e a nossa maior compreensão do universo da genética.  A pandemia mostrou que a questão do acesso aos recursos de saúde é um ponto central e que a discussão e o destino dos investimentos devem ser tratados com a maior seriedade e buscando o melhor impacto, independentemente se públicos ou privados.  Faz sentido a cidade de São Paulo ter 4.927 leitos de UTI (dados CFM mar/2018) e toda a Itália em mar/2020 ter 5.343 com uma população 5 vezes maior? O que dizer do Reino Unido com 4.123 leitos em jan/2020 para 68 milhões de pessoas?  O Brasil com seus 46 mil leitos de UTI (CNS 2019) e uma média per capita muito superior aos países citados, teve sérios problemas com atendimento da população. Ficou claro o desequilíbrio na alocação de recursos em detrimento da atenção primária e secundária – sim, somos um país hospitalocêntrico por excelência – além de falhas estruturais na alocação geográfica de recursos e sobretudo, uma miopia geral sobre o que efetivamente é saúde populacional.

Outra questão que ficou bem evidenciada durante esse período e que podemos considerar um ponto positivo daqui em diante, é o enfraquecimento do mito de que a mão de obra humana na saúde poderia ser substituída, em algum momento, pela adoção de tecnologias cada vez mais assertivas e precisas na saúde. A pandemia mostrou, no mundo todo, que a demanda por equipes de saúde é alta e vai continuar assim, mesmo com a evolução tecnológica.  A área da saúde é uma das áreas que mais cresce na utilização de mão de obra no mundo e essa demanda deve aumentar devido a outros fatores, entre eles, o surgimento de outras doenças, as condições de envelhecimento e mudança do perfil epidemiológico e, agora, o temor por epidemias.

Devemos entender, com a nova conjuntura gerada pela epidemia, que a saúde é um bem dos mais democráticos, tanto que muitos entendem como algo que existe per si, mas não é verdade.  Fica evidente o pouco caso com ela e com a sua correta coordenação no nível populacional quando surge uma crise como a gerada pela Covid-19.  Esperamos que a sociedade mundial, não apenas os governos, desenvolva uma maior consciência sobre a necessidade de planejar, coordenar e gerenciar a saúde em todos os níveis.